Aprovação do Infarmed para o financiamento de pembrolizumab no tratamento adjuvante de adultos com melanoma

Dr.ª Rita Teixeira de Sousa, Serviço de Oncologia Médica, Hospital de Santa Maria – Centro Hospitalar de Lisboa Norte, Faculdade de Medicina de Lisboa Serviço de Oncologia Médica, Hospital Lusíadas Lisboa
16/04/21
Aprovação do Infarmed para o financiamento de pembrolizumab no tratamento adjuvante de adultos com melanoma

Leia a análise da Dr.ª Rita Teixeira de Sousa, do Serviço de Oncologia Médica, Hospital de Santa Maria – Centro Hospitalar de Lisboa Norte, sobre a aprovação do Infarmed para o financiamento de pembrolizumab no tratamento adjuvante de adultos com melanoma em estadio III.

A relação entre imunidade e cancro é descrita desde 1980, com referência à capacidade do sistema imune em reconhecer e eliminar células cancerígenas.  O melanoma maligno sempre foi descrito como um tumor imunogénico e, como tal, historicamente a imunoterapia sempre fez parte do seu tratamento. (1)

Nos últimos anos temos assistido a uma nova era, com o surgimento de novos fármacos ou combinações, cada vez mais eficazes, que vieram alterar o panorama do tratamento do melanoma metastático. A imunoterapia, com a aprovação dos “checkpoint inhibitors”, como o anti-PD1, é atualmente um dos pilares do tratamento desta patologia.

O pembrolizumab (anti-PD1) é um das opções terapêuticas neste contexto. Posteriormente, foi avaliado este grupo terapêutico, os anti-PD1, como terapêutica adjuvante. Os ensaios avaliaram a utilização destes fármacos posteriormente à cirurgia, em doentes com estadio III, tendo os resultados sido positivos, com diminuição do risco de recidiva, prolongando a sobrevivência livre de recidiva. 

Especificamente, o pembrolizumab foi avaliado em contexto adjuvante no ensaio clínico Keynote 054, um ensaio aleatorizado, de fase III, controlado com placebo, duplamente cego, que avaliou o pembrolizumab como terapêutica adjuvante em doentes com melanoma estadio III ressecado. (2)

Comparativamente ao placebo, a terapêutica com pembrolizumab reduziu o risco de recidiva ou morte em 44% (HR 0.56; 95% IC 0.47 – 0.68; p< 0.001). Relativamente ao endpoint primário do estudo, a sobrevivência livre de recidiva foi estatisticamente superior no grupo de doentes sob pembrolizumab vs placebo. (HR de 0,57; intervalo de confiança [IC] 98,4%:0,43 – 0,74; p<0,001). A taxa de sobrevivência livre de recidiva aos 36 meses era de 63.7% no grupo de doentes sob pembrolizumab, comparativamente a 44.1% no grupo de placebo.

Os efeitos adversos incluem os que são relacionados com a reação imunitária, que já conhecemos da utilização destes fármacos em contexto metastático. Neste ensaio clínico, ocorreram efeitos adversos grau ≥ 3, em 14.7% dos doentes sob pembrolizumab comparativamente a 3.4%, sob placebo.

Desta forma, o pembrolizumab foi aprovado pelas entidades reguladoras e  foi recentemente financiado pelo INFARMED, em monoterapia para o tratamento do melanoma maligno em contexto adjuvante. O benefício para os doentes com este diagnóstico é desta forma inquestionável, sendo uma opção a considerar no tratamento destes doentes.

(1) Kirkwood JM, et al. Immunotherapy of Cancer in 2012. Ca J Clin 2012;62:309–35

(2) Eggermont A.M.M. Pembrolizumabversus placebo after complete resection of high-risk stage III melanoma: new recurrence-free survival results from the EORTC 1325-MG/Keynote 054 double-blinded phase 3 trial at 3-year median follow-up. Presented at ASCO 2020.

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