A canábis, sim é feminino, é uma das plantas medicinais mais antigas do mundo. Em Portugal, as primeiras referências surgem em 1563 por Garcia de Orta no seu livro “Colóquio dos simples, e drogas e coisas medicinais da India”.
Na década de 30 já tinham sido isolados o canabinol (CBN) e o canabidiol (CBD), mas foi em 1964, com a descoberta do delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) que houve um aumento do interesse na sua investigação, tentando determinar as suas propriedades e potenciais utilizações terapêuticas.
Os fitocanabinoides que demonstram ação terapêutica são o THC e o CBD. Atuam no sistema endocanabinoide, sistema que está presente em todos os vertebrados e contribui para a manutenção da homeostasia (capacidade de manter o equilíbrio interno).
A medicação à base de canábis para uso humano e com fins terapêuticos carece de uma autorização do Infarmed e existe uma única formulação à venda em farmácias portuguesas desde o início de abril para utilização por via inalatória através de vaporizador, sendo que todos os outros produtos à venda não são para uso clínico.
A utilização destas substâncias não é de primeira linha, o que quer dizer que pode estar indicado quando os tratamentos convencionais não produzem os efeitos esperados ou provocam efeitos adversos importantes.
Está aprovado para as seguintes utilizações:
- Espasticidade associada à esclerose múltipla ou lesões da espinal medula
- Náuseas e vómitos (resultantes de quimioterapia, radioterapia e terapia combinada de HIV e hepatite C)
- Estimulação do apetite nos cuidados paliativos de doentes oncológicos ou com SIDA
- Dor Crónica (associada a doenças oncológicas ou sistema nervoso)
- Síndrome de Gilles de la Tourette
- Epilepsia e tratamento de transtornos convulsivos graves na infância, tais como as síndromes de Gravet e Lennox-Gastaut
- Glaucoma resistente à terapêutica
Existem várias formas de administrar canabinoides. Nas farmácias portuguesas está disponível a flor seca para vaporização, que não apresenta todas as indicações descritas acima (não para a alínea f). Os canabinoides também podem ser administrados através de óleos com características e proporções dos teores de THC/CBD diferentes e consequentemente aplicabilidades e indicações que podem variar.
De uma forma sucinta, os principais efeitos clínicos do THC são como analgésico, antiemético, relaxante muscular, ansiolítico e estimulante do apetite e os do CBD são anticonvulsivante, anti-inflamatório, ansiolítico e analgésico.
Nos primeiros meses, houve alguma dificuldade nas plataformas de prescrição, problema que nesta fase já está resolvido sendo necessário assinalar a indicação terapêutica em que está a ser utilizado.
Para que este tratamento seja implementado de forma adequada é necessário e obrigatório, como em qualquer tratamento farmacológico, o acompanhamento médico. Só desta forma pode ser garantida a segurança e eficácia. Para além de uma avaliação diagnóstica de base, devem ser também esclarecidas todas as questões e providenciar informação cientificamente correta relativamente à dosagem adequada, possíveis interações medicamentosas bem como contraindicações inerentes ao tratamento com canabinoides. Quando tudo isto é feito, os doentes têm aderido bem à terapêutica e os resultados têm sido bastante satisfatórios.