Aspiração de trombo no enfarte agudo do miocárdio
Redação News Farma
28/08/14
Um modesto exemplo das imensas potencialidades do Registo Nacional de Cardiologia de Intervenção.

A Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC) é detentora deste importante manancial de dados que, além de outros aspectos, permite estudar a eficácia e a segurança da cardiologia de intervenção portuguesa. Não obstante ainda haver necessidade de aperfeiçoamentos, presentemente todos os centros de cardiologia de intervenção portugueses estão a exportar os dados para o Centro Nacional de Coleção de Dados em Cardiologia (CNCDC), sendo que esta base já comporta mais de 60.000 doentes.
Há que reconhecer que os investigadores do RNCI ainda não estão a tirar verdadeiro partido das possibilidades da informação disponível, sendo ainda escasso o número de trabalhos científicos baseados neste registo. Os dados que agora apresentamos e que irão ser apresentados numa comunicação oral do Congresso Europeu de Cardiologia, são uma modesta demonstração do grande potencial do RNCI.
O estudo TAPAS1 e uma metanálise2 que incluiu 18 ensaios clínicos, sugeriam que a aspiração manual, quando comparada com a angioplastia primária sem aspiração, reduzia a mortalidade e os eventos cardíacos adversos (MACE: morte, enfarte do miocárdio e nova revascularização da lesão alvo). Neste contexto, as guidelines da Sociedade Europeia de Cardiologia, situaram a trombectomia manual por aspiração, efectuada por rotina, como classe IIa com nível de evidência B.
Estes dados não vieram a ser confirmados no estudo TASTE3, cujos doentes foram prospectivamente recrutados no registo sueco SCAAR. O objectivo primário, morte aos 30 dias, foi similar em ambos os grupos.
Tendo por cenário a discrepância revelada entre os primeiros estudos e o TASTE, consultamos o Registo Nacional de Cardiologia de Intervenção, com o objectivo de saber a prevalência e o impacto da aspiração manual de trombo no enfarte com supra de ST. Tratou-se de um estudo observacional retrospectivo, que incluiu 9.458 doentes, tratados entre 2006 e 2012. A taxa de aspiração foi de 35%. Tal como se observou no TASTE, no RNCI não se observou diferença significativa na mortalidade hospitalar entre os doentes com e sem aspiração.
Escrito por Hélder Pereira, presidente da APIC
Bibliografia:
(1) Svilaas T, Vlaar PJ, van der Horst IC, et al. Thrombus aspiration during primary percutaneous coronary intervention. N Engl J Med 2008; 358:557.
(2) Kumbhani DJ, Bavry AA, Desai MY, et al. Role of aspiration and mechanical thrombectomy in patients with acute myocardial infarction undergoing primary angioplasty: an updated meta-analysis of randomized trials. J Am Coll Cardiol 2013; 62:1409.
(3) Fröbert O, Lagerqvist B, Olivecrona GK, et al. Thrombus aspiration during ST-segment elevation myocardial infarction. N Engl J Med 2013; 369:1587.