Aspiração de trombo no enfarte agudo do miocárdio

Redação News Farma
28/08/14

Um modesto exemplo das imensas potencialidades do Registo Nacional de Cardiologia de Intervenção.


Aspiração de trombo no enfarte agudo do miocárdioO Registo Nacional de Cardiologia de Intervenção (RNCI) foi criado, em 2002, pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia com o objetivo de documentar de forma prospectiva e contínua as características dos doentes e dos procedimentos percutâneos realizados em Portugal.


A Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC) é detentora deste importante manancial de dados que, além de outros aspectos, permite estudar a eficácia e a segurança da cardiologia de intervenção portuguesa. Não obstante ainda haver necessidade de aperfeiçoamentos, presentemente todos os centros de cardiologia de intervenção portugueses estão a exportar os dados para o Centro Nacional de Coleção de Dados em Cardiologia (CNCDC), sendo que esta base já comporta mais de 60.000 doentes.

Há que reconhecer que os investigadores do RNCI ainda não estão a tirar verdadeiro partido das possibilidades da informação disponível, sendo ainda escasso o número de trabalhos científicos baseados neste registo. Os dados que agora apresentamos e que irão ser apresentados numa comunicação oral do Congresso Europeu de Cardiologia, são uma modesta demonstração do grande potencial do RNCI.

O estudo TAPAS1 e uma metanálise2 que incluiu 18 ensaios clínicos, sugeriam que a aspiração manual, quando comparada com a angioplastia primária sem aspiração, reduzia a mortalidade e os eventos cardíacos adversos (MACE: morte, enfarte do miocárdio e nova revascularização da lesão alvo). Neste contexto, as guidelines da Sociedade Europeia de Cardiologia, situaram a trombectomia manual por aspiração, efectuada por rotina, como classe IIa com nível de evidência B.

Estes dados não vieram a ser confirmados no estudo TASTE3, cujos doentes foram prospectivamente recrutados no registo sueco SCAAR. O objectivo primário, morte aos 30 dias, foi similar em ambos os grupos.

Tendo por cenário a discrepância revelada entre os primeiros estudos e o TASTE, consultamos o Registo Nacional de Cardiologia de Intervenção, com o objectivo de saber a prevalência e o impacto da aspiração manual de trombo no enfarte com supra de ST. Tratou-se de um estudo observacional retrospectivo, que incluiu 9.458 doentes, tratados entre 2006 e 2012. A taxa de aspiração foi de 35%. Tal como se observou no TASTE, no RNCI não se observou diferença significativa na mortalidade hospitalar entre os doentes com e sem aspiração.

Escrito por Hélder Pereira, presidente da APIC

Bibliografia:

(1) Svilaas T, Vlaar PJ, van der Horst IC, et al. Thrombus aspiration during primary percutaneous coronary intervention. N Engl J Med 2008; 358:557.

(2) Kumbhani DJ, Bavry AA, Desai MY, et al. Role of aspiration and mechanical thrombectomy in patients with acute myocardial infarction undergoing primary angioplasty: an updated meta-analysis of randomized trials. J Am Coll Cardiol 2013; 62:1409.

(3) Fröbert O, Lagerqvist B, Olivecrona GK, et al. Thrombus aspiration during ST-segment elevation myocardial infarction. N Engl J Med 2013; 369:1587.
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