Leucemia: em busca da cura
Professor Doutor João Forjaz de Lacerda
21/10/14

Neste contexto, foi investigado qual o nível de ativação da via PI3K/AKT e dos seus principais reguladores, assim como o seu nível funcional, em doentes pediátricos e adultos com leucemia linfoblástica aguda de imunofenótipo B. Este estudo foi realizado em conjunto com o laboratório do Professor Doutor João Taborda Barata, que já tinha dissecado o papel da referida via em doentes com leucemia linfloblástica aguda de fenótipo T.
Neste momento, destaca, o principal foco de investigação deste laboratório diz respeito à reconstituição imunológica após o transplante de progenitores hematopoiéticos, o que tem também, de uma forma indireta, a ver com leucemias agudas, já que a maioria destes doentes sofre desta patologia e o transplante é realizado como técnica de intuito curativo. Depois, o transplante em si mesmo pode ter várias intercorrências, porque existe uma suscetibilidade maior a infeções virais, fúngicas e bacterianas.
"É aqui que surge um polo de interesse muito importante e que diz respeito ao desenvolvimento de técnicas que nos permitam não só estudar a imunidade específica para vírus, nomeadamente para o citomegalovírus – algo que estamos a desenvolver no momento –, sendo que temos também a decorrer, há mais de um ano, um projeto que avalia prospectivamente o desenvolvimento da doença contra o hospedeiro crónica e a correlação desta manifestação com a reconstituição imunológica do doente ao longo do tempo", explica.
Um novo projeto
O Professor João Forjaz de Lacerda revela ainda que, dentro em breve, será iniciado um protocolo de imunoterapia específica com células T reguladoras do dador. Trata-se de um subtipo de células que têm uma função supressora – que podem ser utilizadas em doentes que têm doença do enxerto contra o hospedeiro crónica resistente à terapêutica convencional, e que irão receber células T reguladoras do respetivo dador no intuito de suprimir esta reação no doente.
Este protocolo, que avança no último trimestre do ano, envolve todos os centros de transplante alogénico de progenitores hematopoiéticos do país. "Hoje em dia fazem-se transplantes alogénicos no Hospital de Santa Maria e nos IPO de Lisboa e do Porto e ambos são nossos colaboradores neste ensaio terapêutico", acrescenta.
Entretanto, para este especialista, a coexistência num mesmo espaço do IMM, Faculdade de Medicina e Hospital, é absolutamente essencial e, talvez, uma das grandes mais-valias da instituição no que concerne à investigação.
"Num único campus reúnem-se três instituições de excelência, o que facilita o acesso a amostras biológicas, sendo ainda de destacar a presença de massa crítica que, devido à proximidade, traz mais-valia para a discussão científica e para o desenvolvimento dos projetos de investigação", refere.
Investigação emergente, mas de qualidade
Em termos de futuro, para além do desenvolvimento do projeto que decorre sobre imunoterapia e utilização de células T reguladoras, o Professor Doutor João Forjaz de Lacerda gostaria de enveredar por técnicas de monitorização e imunoterapia com células específicas para infeções virais e fúngicas no período pós transplante.
"Acaba por ser um desafio, porque envolve, nomeadamente, purificação, separação e administração de células aos doentes e existem contornos legais que é necessário ter em atenção. Neste momento este é o nosso próximo grande objetivo com intuito terapêutico", frisa. Acrescenta que têm, ainda, outros projetos, no âmbito da biologia de doenças hemato-oncológicas e da suscetibilidade genética para infeções fúngicas e virais, que desenvolvem em paralelo com o Laboratório do Professor Agostinho Carvalho, da Universidade do Minho.
Questionado sobre como vê a investigação em Portugal, o Professor Doutor João Forjaz de Lacerda afirma que é emergente quando comparada com a dos grandes centros mundiais, mas com qualidade crescente.
"Existe boa investigação em Portugal. Temos excelentes investigadores e aqui, neste campus, com a coexistência destas três instituições, existe um núcleo já muito interessante de médicos, de pedagogos e investigadores de alta qualidade", conclui.
Texto original publicado na revista Hematologia e Oncologia n.7, setembro 2014