Jornal do Congresso - Qual o contexto e com que objetivos foi fundada, em 1989, a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO)?
José Lima Reis – Nessa altura, grande número de endocrinologistas no País sentia a ameaça que a obesidade constituía para a saúde e sabia a dificuldade que haveria em combatê-la se não fossem tomadas medidas concretas na área da profilaxia e não se instituíssem protocolos terapêuticos eficazes. Assim, constituiu-se um grupo de profissionais interessados na melhoria dos seus próprios conhecimentos na área da etiopatogenia e das possibilidades e exequibilidade das formas de tratamento possíveis.
A comissão para a formação da sociedade foi o mais numerosa possível para abranger o maior número de centros hospitalares interessados e integrou os seguintes especialistas:
Comissão para a formação da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade
Prof. Alberto Galvão-Teles
Dr. Manuel Almeida Ruas
Prof. Luís Medina
Dr. Emílio Peres
Dr. Lima Reis
Dr. J. Charneco da Costa
Dr. Ignacio Salcedo
Dr.ª Liliana Guerreiro
Dr. Carsilo de Morais
Dr.ª Isabel do Carmo
Dr.ª Manuel Carvalheiro
Dr. António Camilo Alves
Dr. Eduardo Souto
Prof. Daniel Sampaio
Dr. Simões Pereira
JC - Como descreve o panorama nacional atual no que diz respeito à obesidade comparativamente com o cenário de há 25 anos, quando a SPEO nasceu?
JLR - O conhecimento da etiopatogenia da doença é incomparavelmente maior, a pesquisa e a investigação laboratorial nos serviços da especialidade desenvolveu-se, quer na área médica, quer na área da nutrição e passou, portanto, a ter também sede nacional, e a resposta terapêutica adequada pode ser procurada pelos doentes em consultas médicas e cirúrgicas
JC - Quais os avanços mais marcantes que foram registados na área da prevenção, diagnóstico e tratamento da obesidade neste período?
JLR - Primeiro, a consciência da classe médica nacional de que a doença afinal existia e precisava de profilaxia e terapêutica ajustada a cada caso. Segundo o reconhecimento de que o tecido gordo é um protagonista indiscutível do nosso metabolismo endócrino e nos reserva ainda muitas surpresas.
JC - De que forma os avanços alcançados se traduzem em ganhos de sobrevivência ou de qualidade de vida?
JLR - O êxito do tratamento traduz-se quase sempre num enorme ganho no tempo de sobrevivência dado o número elevado de complicações que trata ou previne melhorando fatalmente a qualidade de vida.
JC - Qual o papel da SPEO ao longo destes anos no esforço para diminuição da incidência desta doença na população portuguesa?
JLR - Suponho que é impossível quantificar mas julgo que terá sido apreciável. Noto uma preocupação cada vez maior, quer individual, quer familiar, na regulação do peso e confirmo um muito maior conhecimento das consequências gravosas de coabitar com sobrecarga ponderal.
JC - Das várias ações de iniciativa da SPEO ao longo destes 25 anos de atividade, quais foram as mais marcantes e porquê?
JLR - A criação de uma sede própria de onde se podem dirigir operações e onde se podem programar reuniões e difundir posições, bem como a realização regular de congressos onde se apresentam trabalhos e temperam opiniões parecem-me as mais importantes.
JC - Como se situa Portugal em relação aos restantes países da Europa na área da obesidade, tanto no que diz respeito à incidência desta doença, como na sua prevenção/diagnóstico/tratamento e na tomada de consciência para as suas consequências?
JLR - Diria que são muito semelhantes com variações regionais, culturais e também na disponibilidade económica que deveriam merecer a nossa atenção.
JC - Como antevê a abordagem da obesidade no futuro?
JLR - Não tenho capacidade divinatória, mas tenho imaginação bastante para supor a indução de uma batalha travada no lume intestinal entre bacteroides e firmicutes com a grande vitória final dos bacteroides. Para isso é fundamental mudar drasticamente comportamentos alimentares para dar de comer apenas ao exército de salvação.
JC - Qual o contributo em termos de educação, formação e atualização, do Congresso Português de Obesidade, que este ano alcança a sua 18.ª edição?
JLR - Enorme, pois é o local para mostrar trabalhos, trocar opiniões, estabelecer contactos e encontrar inspiração para continuar a investigação e força para continuar a luta contra a doença que, a avaliar pela Vénus de Willendorf, nos visita há mais de 22000 anos.
JC - Qual a sua ligação à SPEO ao longo destes anos e como tem acompanhado o percurso desta Sociedade?
JLR - De presidente a sócio, percorri quase todos os lugares possíveis numa Sociedade deste tipo e tenho, desde a fundação, tentado dar o meu melhor contributo para que progrida e se mantenha com a qualidade que lhe emprestam todos os seus sócios e dirigentes.
JC - Que comentário deseja deixar a propósito destas "bodas de prata" da SPEO?
JLR - Penso que a sociedade tem profissionais com capacidade bastante para a levar com êxito a chegar ao ano das bodas de ouro. Esses são os meus votos sinceros.
Artigo original publicao no Jornal do Congresso do 18.º Congresso Português de Obesidade
SPEO comemora 25 anos
Redação News Farma
31/10/14