Envelhecimento e aptidão psicológica para conduzir

Dummy
25/06/13

O automóvel particular constitui hoje o meio de transporte preferencial e dominante na população idosa, contribuindo para a mobilidade, independência e bem-estar psicológico, sobretudo em pessoas idosas com incapacidades físicas ou sem outros meios de transporte alternativos e acessíveis.


A avaliação psicológica dos condutores deve por isso ser um processo válido, rigoroso e justo, com vista à prevenção da atividade de condução com saúde e segurança, ao longo da vida.


Estudos pioneiros em Portugal sobre a utilidade de testes psicológicos para avaliar a aptidão para a condução em pessoas idosas.


Uma tese de doutoramento intitulada Avaliação Psicológica de Condutores Idosos: Validade de Testes Neurocognitivos no Desempenho de Condução Automóvel, recentemente apresentada à Universidade de Coimbra, teve o objetivo de determinar quais os testes cognitivos mais indicados para avaliar os condutores idosos, comparando os resultados nos testes com o desempenho de condução em contexto real de trânsito. A dissertação, financiada por uma bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia concedida a Inês Ferreira, inclui estudos pioneiros em Portugal sobre a utilidade dos testes psicológicos para avaliar a aptidão para conduzir.


A implementação de estudos com testes psicológicos/cognitivos e condução automóvel foi possível através de uma cooperação entre a Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra e instituições com reconhecido interesse na prevenção e segurança rodoviária. O Instituto da Mobilidade e dos Transportes, I.P. possibilitou a administração de testes psicológicos em condutores idosos referenciados por autoridades de saúde, no âmbito de processos verídicos de avaliação da aptidão para a condução. O ACP desempenhou também um papel essencial nas investigações ao proporcionar as condições necessárias à realização de provas práticas de condução, como um veículo automóvel e um examinador profissional.


Utilidade de testes psicológicos na avaliação de condutores idosos


Os condutores idosos com pior desempenho de condução obtiveram resultados inferiores em testes psicológicos específicos que examinam a perceção visual, a atenção visual e as funções executivas. Por outras palavras, tendem a evidenciar uma pesquisa de informação visual menos rápida e efetiva, maior dificuldade em dividir a atenção entre diferentes estímulos e tarefas, bem como períodos de tempo superiores para iniciar e executar as ações motoras. Estes resultados traduzem a influência determinante do funcionamento cognitivo no comportamento de condução, e a utilidade dos testes psicológicos para prever o desempenho desta atividade em pessoas idosas.



Identificação de condutores de risco


A avaliação psicológica nos condutores idosos desempenha um papel determinante na deteção de alterações cognitivas que podem surgir com o avanço da idade ou em consequência de alguma doença, nomeadamente doença cerebrovascular ou neurodegenerativa (por exemplo, Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson, Esclerose Múltipla), diminuindo a aptidão para conduzir um automóvel. Para a identificação dos condutores de risco, foi investigada a utilidade de um teste de rastreio cognitivo, o Addenbrooke's Cognitive Examination Revised, conforme um estudo publicado na revista internacional Accident Analysis and Prevention. Os dados de investigação comprovaram que este instrumento apresenta eficácia na deteção de condutores inaptos na condução, o que tem particular relevância para os processos de avaliação clínica de condutores idosos.



Implicações práticas e sociais dos estudos


Os estudos permitiram igualmente concluir sobre a existência de testes psicológicos de uso corrente em Portugal com utilidade limitada para prever a capacidade de condução em adultos idosos, em comparação com testes de referência na literatura científica internacional. Estes resultados indicam a necessidade de aperfeiçoar os protocolos de testes psicológicos para condutores idosos, a partir do qual são constituídos pareceres sobre a capacidade de condução, com todas as implicações pessoais, familiares e sociais associadas. A carência de estudos em Portugal sobre a validade de testes psicológicos para condutores, justifica uma continuidade de investigações neste domínio.

 

 

 

Inês Saraiva Ferreira é psicóloga clínica e doutorada em Avaliação Psicológica. Autora de artigos em revistas nacionais e internacionais na área da avaliação psicológica de condutores, no qual tem desenvolvido actividade clínica, de investigação e como formadora.



 

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