Os problemas auditivos, comuns aos mais idosos, dificultam a sua capacidade de compreensão, tal como começa por afirmar o Prof. Doutor Leonel Luís, identificando as consequências visíveis nos doentes. “Somos seres sociais, que dependemos da comunicação e do convívio social. Sem este contacto isolamo-nos, deprimimos e envelhecemos. Precisamos de conviver, debater e conversar.”
Relativamente aos aparelhos auditivos tem existido uma grande evolução “desde a amplificação acústica até pequenos aparelhos com microfones direcionais e chips que melhoram as frequências e isolam o ruído de fundo.”
O otorrinolaringologista destaca a maior evolução tecnológica nesta área: “o ouvido eletrónico que substitui a função, permitindo ao cérebro reconhecer, mesmo que o doente tenha nascido sem essa capacidade. Permite aos bebés que nascem surdos, ouvir música, desenvolver a fala e frequentar o ensino juntamente com as outras crianças.”
Sobre o desenvolvimento dos sintomas e o diagnóstico, o Prof. Doutor Leonel Luís esclarece que “nas crianças, geralmente, há um atraso no desenvolvimento da fala. Uma boa solução é o rastreio auditivo que pode ser feito aos recém-nascidos de forma a identificar a surdez. Atualmente, os bebés, em Portugal, já são testados antes dos seis meses de vida."
"Há testes automáticos que geram uma resposta exata e quantitativa, identificando a zona e a causa da perda auditiva. Pode colocar-se uma prótese, amplificando o som", explica. Outra opção disponível é o ouvido eletrónico implantado cirurgicamente
Apesar de os problemas auditivos afetarem maioritariamente pessoas em idades mais avançadas, o Prof. Doutor Leonel Luís alerta também para a importância de sensibilizar os mais novos referindo que os jovens são alvo de traumatismo sonoro devido à exposição elevada ao ruído nas discotecas, por exemplo. O especialista sugere assim que se criem campanhas de sensibilização direcionadas para esta faixa etária.
Relativamente aos implantes cocleares, o Prof. Doutor Leonel Luís reconhece uma conquista: “Já temos um programa no SNS, incluindo vários hospitais públicos e privados, nomeadamente o Hospital de Santa Maria.”
É importante incidir na comunicação e divulgação sobre a evolução tecnológica nos tratamentos de problemas auditivos, reforça o médico. “A maioria das pessoas que beneficiariam de reabilitação auditiva, a partir de próteses auditivas ou do ouvido eletrónico, não é tratada". O próximo passo a evoluir nesta área, tal como indica, prende-se com o desenvolvimento de “uma prótese auditiva genérica para o SNS, com boa tecnologia e de baixo custo de forma a estar disponível a todos.”
O Prof. Doutor Leonel Luís reforça a mensagem da importância de incentivar a sensibilização para os problemas auditivos e os respetivos tratamentos. “É necessário explicar às pessoas que ouvir mal tem solução, se as próteses já não são suficientes, podem ser colocados implantes cocleares. A cirurgia é simples, praticamente indolor, os doentes têm alta no próprio dia e recuperam a audição, permitindo recuperar a vida que tinham antes, numa dimensão social, cultural, familiar".
"Há doentes que praticamente não comunicavam que agora querem contar tudo o que guardaram durante tanto tempo. Isso traz-lhes alegria, permite uma mudança de vida: saem mais de casa e convivem mais. Têm vontade de viver, comunicar, ouvir música, serem felizes. Ouvir é ser feliz, é esse o objetivo que temos para os nossos doentes", conclui.