Como otimizar o diagnóstico e tratamento do cancro da mama? O desenvolvimento de elos entre especialidades

14/03/23
Como otimizar o diagnóstico e tratamento do cancro da mama? O desenvolvimento de elos entre especialidades

No âmbito das 1.as Jornadas de Patologia Mamária, marcadas para 31 de março, a Dr.ª Margarida Coiteiro, membro da Comissão Organizadora deste encontro e ginecologista-obstetra no Hospital CUF Sintra e CUF Cascais, destaca que Portugal já atingiu “uma excelente capacidade do rastreio organizado”, no entanto, existem ainda vários constrangimentos. Neste sentido, “um dos objetivos destas Jornadas é dar a conhecer a nossa Unidade da Mama e desenvolver elos para apoiar na resposta ao diagnóstico e tratamento do cancro da mama.” Leia a entrevista.

News Farma (NF) | No programa das 1.as Jornadas de Patologia Mamária, entre outros tópicos, é dado ênfase ao rastreio e à relevância da Imagiologia nesta área. Recentemente, o diretor do Programa Nacional das Doenças Oncológicas anunciou que quase 98 % da população elegível para fazer o rastreio do cancro da mama já foi convidada a fazer o exame, ultrapassando o objetivo europeu previsto para 2025. Enquanto especialista de Senologia, que expectativas tem sobre estes dados?

Dr.ª Margarida Coiteiro (MC) | Estes dados refletem a excelente capacidade do rastreio organizado na convocatória das mulheres elegíveis (entre os 50 e 69 anos) para o rastreio  do cancro da mama. Devemos, no entanto, refletir que nem todas as mulheres convocadas aderem ao rastreio; mulheres de alto risco para cancro da mama devem começar a vigilância mais cedo; ficam excluídas neste rastreio as mulheres fora dessa faixa etária, o que é uma lacuna ao qual temos de dar resposta; têm-se verificado um aumento no diagnóstico de cancro de mama em idades jovens, abaixo dos 50 anos; cabe ao médico assistente e à mulher, devidamente informada, terem um papel importante no diagnóstico precoce; o rastreio organizado não inclui o diagnóstico nestas mulheres, nem em mulheres acima dos 69 anos que com aumento da esperança de vida têm uma longevidade que justifica a vigilância. Já há uma proposta para um futuro próximo para alargar a faixa etária da mulher elegível para o rastreio organizado do cancro da mama.

NF | Em que consiste o programa de rastreio e de vigilância realizado na Unidade da Mama do Hospital CUF Sintra e do Hospital CUF Cascais?

MC | A CUF Sintra e CUF Cascais têm uma Unidade de Mama da qual fazem parte especialistas com diferenciação específica no diagnóstico, tratamento e reabilitação do doente com cancro da mama.

Na consulta da mama ou de Ginecologia, é avaliado o risco da mulher para o cancro da mama através da história pessoal e familiar. Nessa consulta, é realizado o ensino do autoexame mamário e é fornecido um folheto explicativo do mesmo. De acordo com o risco para o cancro da mama e grupo etário, a mamografia e/ou ecografia mamárias são oferecidas como método de rastreio ou diagnóstico, as quais frequentemente são realizadas no mesmo dia da consulta.

Iniciamos o rastreio aos 40 anos com mamografia e ecografia mamárias e, de acordo com o risco, a repetição tem lugar a cada um a dois anos; se for mulher de alto risco para cancro da mama (mutação genética), o início do rastreio deve ocorrer entre os 25 e os 30 anos com a realização da ressonância magnética mamária anual, complementando-se com mamografia e ecografia mamária após os 35 anos.

NF | Em Portugal, que tipos de cancro de mama têm sido mais detetados? Quais aqueles que mais a preocupam?             

MC | Os tipos de cancro mais detetados em Portugal são os luminais, que têm dependência de hormonas: estrogénios e/ou progesterona. São habitualmente cancros de mama com melhor prognóstico, particularmente quando diagnosticados em estadios precoces.

Os cancros de mama que mais nos preocupam são os que aparecem nas mulheres jovens, não elegíveis para o rastreio do cancro de mama e aqueles que aparecem no intervalo entre rastreios (cancros de intervalo). São habitualmente cancros mais agressivos, com proliferação mais elevada e frequentemente dos tipos denominados triplo negativos (sem recetores hormonais e Her2 negativos) e HER2 positivos, sendo que ambos carecem de uma intervenção médica mais célere.

NF | O tratamento do cancro da mama envolve uma equipa com profissionais de várias valências: da imagiologia, à oncologia, e à cirurgia? No universo CUF, que dinâmica existe entre as diferentes áreas?

MC | O tratamento do cancro da mama exige a existência de uma equipa multidisciplinar com diferenciação específica na área.

A Unidade da Mama da CUF Sintra e CUF Cascais dispõe de todas as valências necessárias à abordagem do cancro da mama. No caso da Medicina Nuclear e da Radioterapia, existentes no Hospital CUF Descobertas, trabalhamos em parceria e estrita articulação como equipa multidisciplinar.

Na Unidade da Mama, são realizadas reuniões multidisciplinares semanais para avaliação dos casos clínicos e decisão Terapêutica.

NF | A Unidade de Mama do Hospital CUF Sintra e do Hospital CUF Cascais pretende implementar uma estreita articulação de trabalho com as Unidades de Saúde de Cuidados Primários, permitindo uma resposta célere no diagnóstico terapêutico e reabilitação dos doentes com patologia mamária, particularmente com patologia maligna. O que pode adiantar sobre esta articulação?

MC | Um dos objetivos destas Jornadas é também dar a conhecer o nosso trabalho, a nossa Unidade da Mama e desenvolver elos, enquanto parte do sistema de saúde, para apoiar na resposta ao diagnóstico e tratamento do cancro da mama.

Pretendemos estabelecer uma estreita articulação de trabalho com as Unidades de Saúde de Cuidados Primários, contribuindo assim para o diagnóstico precoce, tratamento atempado, permitindo melhorar o prognóstico e sobrevivência dos doentes com cancro da mama.

NF | Que critérios devem ser a base de referenciação às Unidade da Mama?

MC | Os critérios são: indivíduos de alto risco para cancro da mama (mutação BRCA1 e /ou BRCA) com história familiar ou pessoal de risco elevado; patologia mamária benigna para esclarecimento ou terapêutica; patologia mamária suspeita ou confirmada de malignidade.

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