News Farma (NF) | O que podemos esperar para esta sexta edição do Congresso Nacional da APDP?
José Manuel Boavida (JMB) | A 6.ª edição do Congresso Nacional da APDP é um momento importante da luta contra a diabetes em Portugal. Este evento é uma oportunidade, por um lado, para destacar o trabalho contínuo de uma instituição quase centenária, a APDP, com uma vasta experiência acumulada, tanto clínica, como formativa, assim como na área da investigação, e, por outro, para partilhar os avanços mais recentes e relevantes no campo da diabetes. Ao reunir especialistas e investigadores, o congresso permite uma atualização abrangente sobre as descobertas e inovações que marcaram o último ano.
O evento proporciona um espaço valioso para a troca de ideias e experiências entre profissionais de saúde, permitindo-lhes entrar em contacto com novas abordagens e descobertas que podem transformar a prática clínica e melhorar o panorama da diabetes em Portugal, contribuindo para que as pessoas com diabetes estejam cada vez melhor tratadas e acompanhadas.
Este ano o congresso dará um especial destaque à prevenção, que será o desafio principal da diabetologia nos próximos anos: a prevenção da diabetes tipo 1, a prevenção da diabetes tipo 2 e a prevenção da obesidade, principal causa da diabetes, com a visão da criação de um Instituto de Prevenção da Diabetes.
A combinação do conhecimento científico mais atual com a experiência de uma associação como a APDP, cria uma plataforma robusta para delinear os próximos passos para o tratamento da diabetes em Portugal, com um foco claro na promoção de uma melhor qualidade de vida para as pessoas que vivem com esta condição.
NF | Que sessões gostaria de destacar e de que forma a comissão organizadora planeou os temas de forma a combater os desafios atuais no combate à diabetes?
JMB | Destacamos três desafios atuais que foram cuidadosamente planeados pela comissão organizadora para abordar neste evento, pela sua relevância e potencial para a melhoria dos cuidados e para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes para as pessoas com diabetes.
O primeiro é a diabetes tipo 1, à qual dedicamos duas sessões. Temos assistido a avanços significativos nesta área. Há uma mudança de paradigma na abordagem a esta doença, sobretudo no que diz respeito à deteção precoce. Com novas tecnologias e métodos de rastreio, agora é possível identificar o diagnóstico antes do aparecimento dos sintomas, o que muda o rumo do tratamento e pode melhorar significativamente os resultados de saúde.
Outro grande tema em destaque é a obesidade, o principal fator de risco modificável para a diabetes tipo 2. Convidámos um especialista reconhecido nesta área, o Dr. David Macklin, que irá abordar estratégias que podem contribuir diretamente para a prevenção da diabetes tipo 2.
Por fim, a diabetes na mulher, que visa responder à necessidade de desenvolver estratégias de saúde especificamente dirigidas à população feminina.
NF | O congresso conta, no dia 6 de novembro, com os cursos hands-on focados em “Imersão em insulina”, “Pé diabético” e “Obesidade”, de que forma esta é uma oportunidade para uma atualização mais aprofundada sobre estes três temas?
JMB | A realização dos cursos hands-on no congresso representa uma característica única dos eventos científicos promovidos pela APDP. Estes cursos permitem que os participantes se envolvam diretamente com os temas, explorando-os de forma interativa e com o apoio de especialistas da associação, que possuem vasta experiência não só na prática clínica, mas também como formadores.
Os cursos hands-on permitem uma imersão prática nos desafios e nas novas abordagens relacionadas com a administração de insulina, a prevenção e cuidados com o pé-diabético, e as estratégias de tratamento da obesidade, promovendo uma atualização completa e focada nas necessidades atuais na prática clínica em diabetes.
NF | O Congresso conta com palestrantes internacionais, como o Dr. David Macklin, Prof. Bryan Cleal e Prof. Partha Kar. Compreender as realidades internacionais são também uma forma de nos posicionarmos no tratamento de pessoas com diabetes e obesidade?
JMB | A presença de palestrantes internacionais no Congresso representa uma oportunidade valiosa para ampliarmos o nosso conhecimento. A APDP, através do seu Centro de Investigação, tem fomentado uma ligação estreita com organizações internacionais, permitindo-nos criar uma rede de colaboração e de troca de conhecimentos.
Esta interação com especialistas de renome mundial nas suas áreas permite-nos conhecer novas perspetivas e abordagens inovadoras no tratamento da diabetes e da obesidade. Ao compreendermos estas realidades internacionais, conseguimos avaliar o nosso posicionamento e adaptar, sempre que necessário, as práticas nacionais para estarmos na linha da frente no tratamento destas condições.
NF | Em que ponto estamos ao nível do rastreio da diabetes tipo 1, em Portugal?
JMB | A APDP coordena em Portugal a implementação do projeto piloto europeu EDENT1FI, um consórcio que reúne 28 parceiros de dez países com um objetivo comum: identificar crianças e jovens em risco de desenvolver diabetes tipo 1. Com este projeto, ambicionamos rastrear dez mil crianças e jovens, entre os três e os 17 anos, numa iniciativa pioneira em Portugal, que teve início em setembro e se prolongará por quatro anos.
O rastreio está a ser realizado em escolas, coletividades desportivas e outros eventos, numa abordagem de proximidade que visa alcançar o maior número possível de crianças e jovens. Em menos de três meses, as equipas da APDP já rastrearam mais de mil participantes, o que demonstra uma excelente adesão e revela uma preocupação crescente das famílias em relação à saúde dos seus filhos.
O rastreio permite diagnosticar precocemente a diabetes tipo 1 através da identificação de anticorpos contra a célula beta. A deteção precoce pode revolucionar a abordagem da diabetes tipo 1, uma vez que o diagnóstico antes do aparecimento dos sintomas permite minimizar o risco de complicações graves e melhorar a qualidade de vida das pessoas.
NF | Que medidas considera necessárias e urgentes de implementar para sensibilizar para a diabetes tipo 2, sobretudo nas camadas mais jovens?
JMB | É importante que, desde cedo, os jovens compreendam que as suas escolhas de hoje têm um impacto na sua saúde futura. A escola surge como o local ideal para promover essa aprendizagem, não se limitando a incentivar a prática de atividade física ou a promover uma alimentação mais saudável para prevenir doenças como a diabetes tipo 2. A par disso, a educação para a saúde tem de ser mais abrangente, capacitando os jovens para tomarem decisões informadas e responsáveis, e motivando-os a serem agentes ativos na promoção do bem-estar geral.
Para tal, é fundamental criar espaços de debate e participação, onde os jovens possam expressar as suas opiniões e contribuir para a definição de estratégias de saúde, incluindo discutir sobre modelos de resposta e possíveis soluções. Ao capacitá-los de conhecimento e ferramentas que lhes permitam participar ativamente, estamos a prepará-los para se tornarem embaixadores de um futuro mais saudável e consciente.
Por fim, é importante que estas iniciativas de educação sejam apoiadas por campanhas e políticas públicas que promovam ambientes saudáveis, tanto no contexto escolar como na vida quotidiana.
NF | O que está a faltar nos cuidados prestados às pessoas com diabetes hoje em dia?
JMB | Nos cuidados atuais às pessoas com diabetes, faltam respostas articuladas entre diferentes agentes, como unidades de saúde, autarquias e a sociedade civil. Esta articulação permitiria compreender de forma mais clara e abrangente as reais necessidades das pessoas, e, consequentemente, uma gestão do acompanhamento mais eficaz.
Além disso, faltam respostas integradas, que podiam ser materializadas na criação de centros especializados e integrados, como a APDP. Estes centros funcionariam como pontos de referência para o tratamento da diabetes, facilitando o acesso a cuidados multidisciplinares, com todas as especialidades necessárias capazes de lidar com a complexidade da diabetes.
Também é importante reforçar a educação das pessoas, dos seus familiares e cuidadores, assegurando que todos estejam devidamente informados sobre a gestão da doença, desde a sua monitorização à prevenção de complicações.
É ainda essencial uma aposta em políticas públicas que promovam a prevenção e o diagnóstico precoce, bem como o acesso a tratamentos e tecnologias inovadoras.
NF | Por fim, que convite gostaria de dirigir aos colegas para participarem neste 6.º Congresso Nacional da APDP?
JMB | Gostaria de convidar todos os colegas a juntarem-se a nós neste 6.º Congresso Nacional da APDP, um evento que se distingue pela abordagem aprofundada e prática dos temas mais relevantes na área da diabetes. A APDP tem o privilégio de combinar a experiência clínica dos seus profissionais com um conhecimento enriquecido pela interação diária com as necessidades reais das pessoas com diabetes, o que torna este congresso uma experiência única para todos os que trabalham ou têm interesse nesta área.
Saiba mais sobre o 6.º Congresso Nacional da APDP aqui.