Estas jornadas vocacionadas para a MGF “vão permitir criar fluxogramas de referenciação e uma melhor capacitação dos profissionais envolvidos”

18/11/24
Estas jornadas vocacionadas para a MGF “vão permitir criar fluxogramas de referenciação e uma melhor capacitação dos profissionais envolvidos”

Neste mês de sensibilização para a saúde masculina, o Hospital CUF Torres Vedras e a Clínica CUF Mafra organizam as X Jornadas de Urologia, a 29 de novembro. Fortunato Barros, coordenador de Urologia desta unidade, fala-nos sobre o crescimento do evento e os principais temas desta edição, como as infeções urinárias de repetição, a litíase urinária, a hiperplasia benigna da próstata e a Oncologia urológica. “A especialidade de Medicina Geral e Familiar deve ser a porta de entrada e, independentemente da idade e do rastreio instituído, devemos motivar os homens a estar atentos à saúde da próstata e a manter rotinas de vigilância de saúde global”, destaca o especialista. Leia a entrevista.

News Farma (NF) | A 29 de novembro, a especialidade de Urologia do Hospital CUF Torres Vedras e da Clínica CUF Mafra vai organizar as X Jornadas de Urologia do Hospital CUF Torres Vedras. Chegar à marca de dez edições é sinal de maturidade do evento. Que avaliação faz do crescimento destas Jornadas?

Fortunato Barros (FB) | Sem dúvida que estas jornadas têm sido um sucesso. Já são referência na região Oeste e constituem marcos importantes no curriculum da Medicina Geral e Familiar. O seu crescimento deve-se essencialmente à boa cooperação entre os pares e à atividade holística nos cuidados partilhados.

NF | O evento tem lugar no mês que passou a estar associado à consciencialização dos problemas de saúde especificamente masculinos. Estando as Unidades organizadoras do evento – da especialidade de Urologia do Hospital CUF Torres Vedras e da Clínica CUF Mafra – localizadas fora dos grandes centros urbanos, diria que os especialistas de centros mais descentralizados ganham uma outra sensibilidade em endereçar junto destas populações temas do foro urológico, oncológico e da uroginecologia, eventualmente, mais difíceis de abordar? Já se verifica um nível maior de literacia nestas matérias de forma transversal?

FB | Penso que estes assuntos são transversais a todas as comunidades e a todos os Centros. O “efeito tabu” e o “efeito regional” estão menos vincados atualmente. Os Media e as sociedades científicas urológicas têm feito um trabalho de mérito na promoção e sensibilização da população, levando a uma franca elevação do nível de literacia. O simbolismo do mês de novembro – “Movember” – para a saúde masculina não é mais do que um reforço dessa mesma campanha de sensibilização. O Serviço de urologia do Hospital CUF Torres Vedras e da Clínica CUF Mafra sempre teve presente este aspeto e sempre procurou mobilizar e envolver todos os seus pares.

NF | O programa contempla sessões focadas nas infeções urinárias de repetição, a litíase urinária. Qual a carga destas patologias na atividade dos especialistas dedicados a estas áreas? E qual a taxa de sucesso dos tratamentos atualmente, evitando a cronicidade destas patologias?

FB | A litíase urinária é a terceira patologia mais frequente do aparelho genito-urinário, sendo apenas ultrapassada pelas infeções urinárias e pelos problemas da próstata. A litíase é mais frequente no homem e a infeção urinária na mulher.

A litíase afeta cerca de 1 a 3 % da população e a sua recorrência ronda os 50 % aos cinco anos. A incidência da infeção urinária nas mulheres aproxima-se dos 90 %.

A taxa de sucesso dos tratamentos disponíveis atualmente é alta. A prevenção é a principal terapêutica, passando por boa hidratação, dieta adequada, cuidados gerais na higiene íntima (nos casos das mulheres) até uso regrado de antibióticos e correção de eventuais anomalias estruturais do aparelho urinário. Nos casos mais complicados pode haver necessidade de hospitalização e de procedimentos cirúrgicos endoscópicos e minimamente invasivos, na maioria dos casos.

NF | Quão associadas estão estas patologias? Por exemplo, pode a litíase urinária a conduzir a infeções e a hiperplasia benigna da próstata causar litíase urinária? Qual a abordagem adequada para evitar a correlação das comorbilidades urológicas?

FB | As associações da litíase à infeção e da hiperplasia benigna da próstata à litíase e, consequentemente, à infeção são bastante frequentes. O fator precursor comum é a obstrução urinária, que por seu turno leva à estase urinária, litogénese e proliferação bacteriana. Alguns cálculos funcionam como “abrigo” para as bactérias, sendo assim uma fonte de infeções urinárias recorrentes. A presença de infeção urinária no aparelho urinário obstruído por litíase ou por hiperplasia benigna da próstata é um fator de mau prognóstico e requer intervenção cirúrgica o mais célere possível.

NF | Com o avançar da idade, a prevalência da hiperplasia benigna da próstata aumenta. Existe algum método de prevenção?

FB | Uma vez que o fator de risco mais importante para o desenvolvimento da hiperplasia benigna da próstata é a idade, não existe uma forma cientificamente aprovada de a prevenir. A presença de testosterona parece ser um dos fatores principais, já que esta hormona é responsável por estimular o crescimento das células da próstata. Apesar de tudo, existem estudos que defendem que a prática de exercício físico regular, a restrição de ingestão de café e bebidas alcoólicas, uma dieta hipolipídica, o consumo de alimentos ricos em zinco, selénio, vitamina C e E pode reduzir o risco do seu desenvolvimento.

NF | A idade é também um dos grandes fatores de risco das doenças oncológicas urológicas, que podem passar despercebidas nos primeiros momentos. Como comenta o atual despiste e rastreio destas doenças, nomeadamente a partir dos cuidados de saúde primários?

FB | O rastreio é um processo de diagnóstico precoce em pessoas sem sintomas, com regras definidas pelas sociedades científicas e pela Direção Geral de Saúde, com o objetivo de reduzir a mortalidade e, em alguns casos, a incidência do cancro. No mundo urológico, o rastreio do cancro da próstata é o que está mais bem estudado, havendo correntes opositoras. A idade a partir da qual se deve iniciar o processo de rastreio do cancro da próstata é entre os 45 e 50 anos, podendo iniciar aos 40 anos se existirem fatores como a raça negra e antecedentes familiares. A análise do PSA pode salvar vidas!

Não existe estratégia definida de rastreio para o cancro do testículo, mas a sensibilização para o “auto-exame” pode ajudar.

Em relação ao cancro da bexiga, alguns médicos/centros recomendam o rastreio em grupos populacionais de alto risco, como profissionais de fábricas de produtos químicos, através de análise da urina e de marcadores tumorais específicos.

A especialidade de Medicina Geral e Familiar deve ser a porta de entrada e, independentemente da idade e do rastreio instituído, devemos motivar os homens a estar atentos à saúde da próstata e a manter rotinas de vigilância de saúde global junto do médico assistente

NF | E de que forma esta reunião poderá contribuir para melhorar a performance dos profissionais e, consequentemente, melhorar os cuidados prestados no conjunto da Unidade?

FB | As X Jornadas de Urologia do Hospital CUF Torres Vedras vão permitir criar fluxogramas de referenciação e uma melhor capacitação dos profissionais envolvidos, através da partilha de experiências e conhecimento.

NF | Que outros profissionais são convidados a participar?

FB | As Jornadas estão vocacionadas para a Medicina Geral e Familiar, mas são multidisciplinares. Assim, estão convidados também, oncologistas, radioncologistas, internistas, uroginecologistas e enfermeiros.

Saiba mais sobre as X Jornadas de Urologia do Hospital CUF Torres Vedras aqui.

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