News Farma (NF) | O que levou à necessidade de realizar este estudo sobre as tendências, opiniões e perceções da população sobre a saúde em Portugal?
Cristina Campos (CC) | A Associação TOP HEALTH tem como objetivo impulsionar, promover, reconhecer e galvanizar o talento em saúde, estimulando uma cultura de excelência e de colaboração entre os diferentes interlocutores do sector, com o propósito de criação de mais valor para os profissionais de saúde e para os resultados em saúde da população. No final da 1.ª edição dos prémios TOP HEALTH sentimos a necessidade de ter um diagnóstico atual com base na percepção dos portugueses sobre o propósito e o impacto das iniciativas em saúde. No fundo, o propósito do estudo era diagnosticar o Estado da Arte sobre a prioridade da saúde na vida dos portugueses, o nível de conhecimento em saúde, a capacidade de gestão da sua saúde e as suas perspetivas futuras. O estudo vem reforçar a importância da iniciativa dos prémios TOP HEALTH para que mais iniciativas com um propósito claro existam, com a integração de equipas multidisciplinares e com resultados tangíveis e mensuráveis que permitam concretizar resultados em saúde que demonstrem o verdadeiro valor / impacto das iniciativas. No fundo, o estudo não está dissociado dos prémios, ou antes o estudo reforça a importância dos prémios que ambicionam contribuir para catalizar iniciativas e organizações com impacto em saúde.
NF | Como esperam impactar a população e os profissionais de saúde com este estudo?
CC | O estudo TOP HEALTH vem reforçar e enaltecer o propósito das organizações que trabalham pela saúde e incentivar a necessidade de traduzir este propósito em verdadeiro impacto em saúde, numa efetiva melhoria da saúde dos portugueses. Este estudo pretende encorajar diretamente os intervenientes na saúde no desenvolvimento e expansão de iniciativas em áreas prioritárias para os portugueses (por exemplo, na área da integração de cuidados, utilização de tecnologia e dados, ou numa maior equidade no acesso aos cuidados de saúde) e na divulgação da informação relevante que melhor capacite os portugueses na gestão da sua saúde.
NF | Segundo dados do relatório, 51 % dos portugueses acreditam que o estado da saúde não terá evolução ou esta será negativa nos próximos anos. De que forma esta maioria impacta a evolução na saúde no nosso país?
CC | Ainda que 35,6 % dos portugueses considere que a evolução da saúde em Portugal será positiva, a realidade é que, quando olham para o futuro, os portugueses apresentam algum cepticismo, com mais de 26 % dos inquiridos a considerar que a evolução da saúde em Portugal será negativa (ou mesmo muito negativa) e 35 % a considerar que não existirão melhorias dignas de registo pelo que, o cenário se manterá no futuro em linha com o estado atual. Esta perspetiva menos otimista denota alguma preocupação com a evolução do estado de saúde em Portugal. Esperamos que, perante este alerta, o esforço de todos os intervenientes em saúde seja reforçado, seja através da realização de mais e melhores iniciativas com impacto ou através da comunicação das mesmas de forma a que a perceção dos portugueses e a sua capacidade de intervir proativamente seja melhorada.
NF | 68,6 % dos inquiridos acredita que os portugueses se interessam por notícias de saúde, mas praticamente metade considera que não está suficientemente informada sobre os desenvolvimentos e resultados das iniciativas nesta área. A maioria dos participantes refere também que notícias de saúde são muito difíceis de compreender. O que falta fazer para que estas percentagens diminuam? De que forma as unidades de saúde podem contribuir?
CC | Dos diferentes indicadores avaliados no estudo, existe uma realidade que parece incontornável: 91 % dos portugueses consideram que as iniciativas e notícias de saúde devem ser comunicadas ao “grande público” e que os portugueses se interessam por notícias sobre saúde. No entanto, 70,4 % consideram que a informação que atualmente existe é insuficiente para que a população consiga ter uma opinião formada (e correta) sobre este tema. Parece haver uma clara necessidade de maximizar e melhorar a forma como se comunica saúde em Portugal. Se por um lado, as instituições, organizações, equipas e pessoas devem dar maior visibilidade a iniciativas em prol da melhoria da saúde, por outro lado, devem fazê-lo de forma persistente, consistente e clara.
NF | O grau de satisfação dos portugueses com a sua saúde é moderado, segundo o estudo. De que forma podia ser melhor?
CC | O grau de satisfação com o estado geral da saúde em Portugal foi de 6,25 (numa escala em que 10 significava “sinto-me totalmente satisfeito”), o que sugere uma percepção moderada, sem grandes entusiasmos. Apesar da insatisfação demonstrada pelos inquiridos, 51,8 % considera o seu próprio estado de saúde bom ou muito bom e 43,2 % considera como razoável. Esta discrepância na auto-avaliação (mais positiva) comparativamente à avaliação (mais
céptica) da sociedade sublinha aspetos culturais e sociais interessantes dos portugueses. Ainda assim, a ambição deverá ser a de que os portugueses sejam auto-críticos sobre o seu estado de saúde e possam almejar melhores estados de saúde. A saúde dos portugueses melhorará tanto mais quanto maior o conhecimento e motivação para uma atitude proativa de gestão da saúde mas também quanto mais saudável for o sistema de saúde no sentido de ser um verdadeiro sistema de apoio à saúde e bem-estar (e não apenas de apoio à gestão da doença). Todos os intervenientes podem ajudar, comunicando, dando o exemplo e desenvolvendo projetos que apoiem este caminho de maior capacitação da sociedade. Acreditamos que os quatro pilares da TOP HEALTH são áreas essenciais para uma saúde mais satisfatória: literacia em saúde, integração de cuidados, utilização de tecnologia e dados na saúde e diversidade, equidade e inclusão no acesso à saúde e à sua gestão.
NF | Cerca de sete em cada dez portugueses recorrem à internet para procurar informações sobre saúde. Existem perigos quando a gestão é feita assim? De que forma está a ser feito um combate à desinformação?
CC | No estudo TOP HEALTH, apenas 38,1 % dos inquiridos se consideram literados em saúde (tendo respondido oito, nove ou 10 numa escala de 0 (discordo totalmente) a 10 (concordo totalmente) à questão: “Tenho o conhecimento e as competências necessárias para conseguir aceder, compreender e aplicar informação relacionada com temas de saúde, o que me permite tomaras melhores decisões no meu dia-a-dia sobre cuidados de saúde, prevenção de doenças e manutenção do meu bem-estar e da minha saúde em geral”). Por outro lado, sete em cada 10 portugueses, utiliza a Internet para procurar informação sobre saúde. A informação (em excesso ou enviesada) disponível pode ser vista como uma ameaça. Pessoalmente, prefiro olhar para a informação com um ativo essencial no empoderamento da sociedade e no apoio à tomada de decisões e iniciativa proativa ou sentido de agência dos cidadãos. Será essencial que toda a informação seja sujeita a processos de escrutínio e curadoria, através do acesso equitativo a tecnologia e a profissionais de saúde tecnicamente habilitados para o apoio na gestão da saúde do cidadão.
NF | Este relatório indica que os participantes consideram o estado da saúde em Portugal como mau ou muito mau. Como nos comparamos relativamente aos restantes países da União Europeia?
CC | O estudo não fez análises comparativas, refletindo apenas uma mostra representativa da população portuguesa. Quase metade (45 %) dos inquiridos considera o estado da saúde em Portugal mau ou muito mau, 40 % considera razoável e apenas 14,8 % classifica de bom ou muito bom. A conclusão que retiro do estudo TOP HEALTH é de que a percepção sobre o estado de saúde é moderada, sem grandes entusiasmos. Este facto, deverá ser visto como um
estímulo a fazer mais e melhor pela saúde dos portugueses.
NF | Que soluções devem ser implementadas, na sua opinião, para combater estes números?
CC | A associação TOP HEALTH acredita que muito já está a ser feito e bem feito em Portugal. Há, no entanto, uma necessidade de escalar as boas iniciativas e ter consistência na execução dos projetos que visam uma melhoria do estado de saúde dos portugueses. Para isso, acreditamos que os prémios TOP HEALTH são um veículo para dar visibilidade e força aos projetos exemplares e um incentivo para que mais organizações e iniciativas tenham a excelência de uma execução que monitorize o verdadeiro impacto em saúde. Em suma, temos esperança que mais projetos que assentem num propósito claro de melhoria da saúde dos portugueses tenham a resiliência e ganhem a dimensão e consistência suficientes para criar impacto sustentável.