Reunião Dia Mundial da Doença de Parkinson: "A missão é disponibilizar todas as formas de tratamento"

07/04/25
Reunião Dia Mundial da Doença de Parkinson: "A missão é disponibilizar todas as formas de tratamento"

A propósito do Dia Mundial da Doença de Parkinson, assinalado a 11 de abril, o Hospital CUF Porto organiza uma reunião feita a pensar nos doentes e respetivos cuidadores. Rui Vaz, diretor-clínico e coordenador da Unidade de Parkinson e Doenças do Movimento do Hospital CUF Porto, faz uma antevisão do evento e partilha detalhes sobre a nova Unidade de Parkinson e Doenças do Movimento. Leia a entrevista.

News Farma (NF) I A 11 de abril assinala-se o Dia Mundial da Doença de Parkinson. De que forma comemorar esta data é importante para o Hospital CUF Porto?

Rui Vaz (RV) I Comemorar o Dia Mundial da Doença de Parkinson é para o Hospital CUF Porto muito importante na perspetiva da interação que considera fundamental com a população, nomeadamente porque permite chamar a atenção para uma doença frequente cujo tratamento tem evoluído de um modo significativo, partilhando o conhecimento dos desenvolvimentos capazes de melhorarem a qualidade de vida destes doentes.

NF I A reunião é totalmente dedicada a esta patologia, sendo o público-alvo os doentes e respetivos cuidadores. Neste sentido, como foi feita a escolha dos temas? De que forma estas duas perspetivas vão ser apresentadas e representadas?

RV I A escolha dos temas e o programa da reunião foram organizados para doentes e cuidadores, colocando por um lado em diálogo doente e médico (como, por exemplo, nos temas “Viver com Parkinson” e “Cirurgia de estimulação cerebral profunda sob anestesia geral”) com as respetivas vivências da doença e tratamento. Por outro, são ainda visitados os temas considerados mais importantes para aumentar a literacia sobre a doença (“Tratamentos da Doença de Parkinson – em que ponto estamos?”). Além disso, toda a reunião foi pensada em articulação com duas associações de doentes, a Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson (APDPk) e a Young Parkies Portugal, de modo a conseguir chegar ao máximo de doentes e cuidadores a discussão sobre temas recorrentes e novos temas (“O papel das associações nas pessoas com Parkinson”).

NF I Vão ser abordados temas como vivência com a patologia, tratamentos disponíveis e a importância da abordagem multidisciplinar. Como é que o evento vai contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos doentes e cuidadores?

RV I A qualidade de vida destas pessoas depende da capacidade de efetuarem muitas das atividades de vida diária com independência (higiene, alimentação, vestuário, condução, escrita), sendo aqui fundamental uma colaboração multidisciplinar que possa ajudar com este objetivo, discutindo temas como o sono, a alimentação, o treino físico e o entretenimento. Este mesmo conhecimento é fundamental para os cuidadores serem capazes de ajudar na dose certa, descomplicando por um lado e auxiliando nas limitações por outro.

NF I Qual é a principal missão da nova Unidade de Parkinson e Doenças do Movimento?

RV I A missão principal da nova Unidade de Parkinson e Doenças do Movimento será disponibilizar todas as formas atuais de tratamento, integrando-as e utilizando-as de um modo complementar no objetivo da melhoria da qualidade de vida destes doentes. Mas é também muito importante a missão de partilhar este conhecimento com todos os que diariamente têm que lidar com a doença, participando na literacia em saúde.

NF I De que forma esta nova Unidade pretende ser diferente de outras que trabalham a mesma doença, principalmente para as fases mais avançadas que mostram resistência à medicação?

RV I Está cientificamente demonstrado que estes doentes são melhor orientados e tratados em unidades funcionais específicas multidisciplinares e integradas. Esta complementaridade é o ponto de partida e de chegada. Especificamente nas formas mais avançadas da doença que resistem à medicação, disponibilizando a possibilidade de tratamento cirúrgico, mas sob anestesia geral (o Hospital CUF Porto é a única unidade de saúde privada a fazê-lo, adicionando-se a uma outra unidade do SNS), reduzindo muito o sofrimento dos doentes. A disponibilidade de tomografia computorizada intra operatória (O-Arm) constitui uma mais valia importante, permitindo o controlo imediato do rigor da localização no alvo pretendido.

NF I Qual é o panorama atual português?

RV I Nos grandes centros, em termos de tratamento quer médico quer cirúrgico, em Portugal, estamos qualitativamente idênticos aos centros europeus de referência. Falta, porém, uma uniformização deste facto para a totalidade do país, nomeadamente em termos de diagnóstico precoce, opções terapêuticas e acompanhamento adequado, permitindo uma melhor qualidade de vida.

NF I Como perspetiva o futuro desta doença?

RV I Com uma dose muito grande de otimismo. A medicação tem vindo a evoluir constantemente com muitas moléculas em utilização e inúmeros ensaios clínicos em curso, permitindo prever um melhor controlo dos sintomas motores da doença. A complementaridade de especialidades e a inovação que em cada uma delas ocorre vai seguramente conseguir controlar mais e melhor muitos dos sintomas não motores da doença como as alterações do sono, da fala, a obstipação, a urgência urinária, a hipotensão, a sudação e a depressão ou a ansiedade. Os desenvolvimentos técnicos também associados à inteligência artificial e à robótica tornarão o tratamento cirúrgico mais seguro e eficaz. Adicionalmente, estou certo de que surgirão também novas possibilidades de tratamento neste momento ainda não incluídas na prática clínica.

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