Os coordenadores da edição, Dr. Miguel Rodrigues e Dr. José Mário Roriz, recordam que “o aparecimento das UAVC e a implementação da VVAVC tiveram um papel determinante na diminuição da mortalidade por AVC na última década e na melhoria dos cuidados no AVC agudo em Portugal”. No entanto, alertam os especialistas em Neurologia, “o funcionamento da VVAVC e a estrutura e organização das UAVC é díspar a nível nacional”, isto é, os vários hospitais adotam modelos de funcionamento e recursos humanos variados. Adicionalmente, as UAVC “nunca foram formalmente reconhecidas nem integradas numa rede nacional”, colocando limitações à sua organização e funcionamento.
Este trabalho nasceu da necessidade de “identificar, no nosso país, as estruturas existentes para tratamento agudo e subagudo do AVC, bem como caracterizá-las num formato mais sistemático, detalhado e objetivo”, centrado nos critérios estabelecidos pela European Stroke Organisation (ESO), construindo tabelas de classificação fáceis de interpretar objetivamente.
Outro objetivo deste estudo, em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação (SPMFR), passou por “descrever as estruturas disponíveis para a reabilitação pós-AVC”, referem os médicos.
Esta análise abrangente permitiu ao grupo de trabalho enumerar dificuldades e necessidades dos vários centros e traduzi-las em recomendações comuns. “Estas recomendações finais estão em linha com os objetivos do Action Plan for Stroke”, um plano internacional para combater o AVC na Europa, que desafia os países signatários (incluindo Portugal) a alcançar metas estratégicas e faseadas até 2030.
Em traços gerais, o estudo demonstrou que as redes de referenciação existentes para terapêutica aguda de revascularização não seguem um plano nacional concertado e devidamente organizado, “para a criação de uma rede geograficamente equitativa”. Da mesma forma, “há uma distribuição claramente desigual das UAVC pelo território português”.
“Os dados continuam a revelar que a maioria das UAVC apresenta constrangimentos importantes nas infraestruturas e capital humano – algumas em consequência de reestruturações decorrentes da pandemia de COVID-19”, pode ler-se nas conclusões do documento.
É referido que “três em 35 UAVC reconhece não ter equipa própria de enfermeiros, cinco em 35 admite não ter fisioterapeutas dedicados e três em 35 refere não ter terapeutas da fala na equipa da UAVC – sendo que um em 35 UAVC não realiza ainda pesquisas protocoladas sistemáticas de disfagia”. O reforço de médicos, enfermeiros, terapeutas e assistentes operacionais foi uma das principais e mais preocupantes necessidades listadas como comuns às diferentes UAVC analisadas.
O documento pode ser consultado aqui.