“O Lado Invisível da Diabetes Tipo 1”: projeto de investigação português promove literacia sobre a doença

02/07/25
“O Lado Invisível da Diabetes Tipo 1”: projeto de investigação português promove literacia sobre a doença

Vasco Vicente Costa, do ISPA – Instituto Universitário, desenvolveu o projeto “O Lado Invisível da Diabetes Tipo 1”, com o intuito de promover a literacia sobre a doença. “O conhecimento em torno da DT1 e as implicações da mesma, nas variadas áreas da nossa vida, devem ser sistematicamente disseminadas e aprofundadas, de modo a promover a literacia junto da população geral”, reflete. Fique a par dos principais objetivos e leia a entrevista.

News Farma (NF) | Quem é o responsável deste projeto e quais as entidades envolvidas?
Vasco Vicente Costa (VVC) |
 O meu projeto de doutoramento é coordenado e supervisionado por uma equipa de elevada reputação profissional, científica e projeção internacional, constituída pela Prof.ª Doutora Tânia Brandão, Prof.ª Doutora Susana Patton, e Prof.ª Doutora Sónia do Vale, Dr.ª Lurdes Sampaio e pela Prof.ª Doutora Catarina Limbert. Em relação às entidades envolvidas, este projeto beneficia do apoio e colaboração das instituições, Unidade Local de Saúde de Santa Maria – Hospital de Santa Maria, da Unidade Local de Saúde São José – Hospital de Dona Estefânia e Nemours Children’s Health (EUA). Em articulação com estas duas entidades portuguesas, estão a ser desenvolvidos as duas principais investigações do meu projeto de doutoramento.

NF | Como surgiu a ideia deste projeto e quais são os seus principais objetivos?
VVC | 
Com “O Lado Invisível da Diabetes Tipo 1” (DT1), pretendi enfatizar e evidenciar o papel invisível dos pais de crianças e adolescentes com DT1, enquanto pilares fundamentais na gestão da doença. A sociedade, decisores e profissionais de saúde tendem a focar-se e intervirem apenas junto das pessoas com o diagnóstico, e frequentemente, nas diversas doenças, os cuidadores e famílias são negligenciados e esquecidos. Adicionalmente, pretende realçar “o lado psicológico” dos pais, que é significativamente influenciado pelas tarefas e gestão rigorosa da DT1, e neste sentido, as suas vozes e experiências devem ser escutadas. Por fim, identificar uma pessoa com o diagnostico de DT1, não é visivelmente fácil, apesar de que atualmente é possível notar-se nos sistemas de monitorização continua da glicemia e nas bombas de insulina, e associar-se à doença em questão. No entanto nem sempre estão visíveis, por diversas questões pessoais e logísticas, e o conhecimento em torno da DT1, e as implicações da mesma nas variadas áreas da nossa vida, devem ser sistematicamente disseminadas e aprofundadas, de modo a promover a literacia junto da população geral. Desta forma, todos estes pontos contribuíram para a composição e elaboração deste título.

Esta ideia derivou essencialmente a partir da minha experiência pessoal, após o meu diagnóstico de DT1. Ao investigar exaustivamente a literatura existente sobre o tópico, deparei-me com a identificação de uma lacuna na literatura, em termos nacionais e internacionais, relacionada com a escassez de estudos nesta área da Psicologia e DT1 e população. Face à pertinência do exposto, decidi implementar este projeto e pretendo no futuro, focar-me do ponto de vista de investigação e intervenção, com as diversas faixas etárias, populações e nos variados momentos da DT1.

NF | Quais são as principais áreas de investigação deste projeto de doutoramento?
VVC | 
De forma sucinta, relativamente aos dois principais estudos do meu doutoramento, encontro-me atualmente a desenvolver um estudo longitudinal composto por três momentos de avaliação, com o objetivo de analisar, as relações bidirecionais entre os fatores psicológicos dos pais (acompanhados no Hospital de Dona Estefânia e Santa Maria), nomeadamente o sofrimento psicológico associado DT1, o medo da hipoglicemia e a regulação emocional) e o controlo glicémico dos seus filhos (HbA1c e TIR).

Após o término desta investigação, irei adaptar e implementar uma intervenção psicológica digital e grupal, para o contexto português, intitulada de REDCHIP (Reducing Emotional Distress for Childhood Hypoglycemia in Parents) desenvolvida pela minha orientadora Prof.ª Doutora Susana Patton, nos EUA. Esta é direcionada a pais de crianças até aos oito anos de idade e com o diagnóstico de DT1. Adicionalmente tem o objetivo de intervir no medo de hipoglicemia, sofrimento psicológico associado à gestão da DT1 e nas estratégias de coping, baseadas em componentes da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC).

Além destas investigações, já foi publicada uma revisão sistemática da literatura e submetido um estudo transversal sobre fatores de ajustamento psicológico em pais de jovens com DT1. Adaptaram-se para o contexto português duas escalas que aferem o medo de hipoglicémia e o sofrimento psicológico parental associados à DT1, tendo sido igualmente submetidas. Por fim, muitas mais investigações, irão ser submetidas e publicadas em revistas reputadas, pelo que sugiro e recomendo a quem possuir interesse que acompanhe estes avanços científicos na área da Psicologia e DT1.

Relativamente aos avanços e resultados do projeto, nomeadamente as publicações científicas, apresentações em congressos/conferências, conteúdos psicoeducativos para os pais, podem ser acompanhados no website desenvolvido por mim.

Gostaria, ainda, de agradecer profundamente à Prof.ª Doutora Tânia Brandão, Prof.ª Doutora Susana Patton, e Prof.ª Doutora Sónia do Vale, Dr.ª Lurdes Sampaio e pela Prof.ª Dr.ª Catarina Limbert, pelo suporte constante. Agradecer ao Diretor Clínico Prof. Doutor Rui Tato Marinho do Hospital de Santa Maria pela atenção e apoio ativo para comigo e com o projeto, e aos adjuntos e secretariado do Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria, pela colaboração prestada. Agradecer igualmente, a todos os pais/cuidadores, às doutoras e enfermeiras da consulta pediátrica de diabetes do Hospital de Dona Estefânia e Hospital Santa Maria, e aos administrativos da respetiva consulta, no Hospital de Dona Estefânia, pela cooperação constante, que de facto, sem todos estes elementos não era possível a implementação deste projeto. Em suma, agradecer-vos pelo convite e oportunidade, à Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT), à minha faculdade ISPA – Instituto Universitário, e Centro de Investigação William James Center for Research (WJCR – ISPA), pelo apoio.

Sobre Vasco Vicente Costa
Além de doutorando em Psicologia Clínica e da Saúde pelo ISPA – Instituto Universitário, integrado no departamento de Saúde, no Centro de Investigação William James Center for Research (WJCR – ISPA), é bolseiro pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT, N.º 2024.00467.BDANA), e leciona na instituição ISPA – Instituto Universitário. Adicionalmente é psicólogo clínico e membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP).

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