A recomendação é deixada por especialistas do Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, no âmbito do Dia Europeu da Terapia da Fala, que se assinala a 6 de março. Como explica Gracinda Valido, terapeuta da fala do Alcoitão, "a criança é permeável à ansiedade dos pais, dos adultos. Por isso, deve falar-se com os filhos sempre com calma, não querer antecipar as respostas, dar-lhes tempo para responder, para aprender. Se há um erro, não se deve repreender, mas repetir de forma correta".
A terapeuta aconselha também os pais a participar ativamente, brincar, contar histórias, com um discurso e léxico adaptado à idade das crianças, a escutar e a incentivá-las a exprimir o seu pensamento. "Existem padrões comuns, mas nem todos os bebés falam entre os 9 e os 12 meses, o que não significa que tenham uma patologia. As crianças do sexo masculino, por exemplo, geralmente começam a falar mais tarde", comenta Gracinda Valido.
Contudo, há sinais a que pais, educadores e professores devem estar atentos: por exemplo, dizer as primeiras palavras mais tarde do que outras crianças da mesma idade; trocar sons nas palavras (ex: bota/mota); fazer reformulações constantes do que quer dizer (ex: hoje cinema vamos...Vamos hoje ao cinema?). Ou ter dificuldades em lembrar-se dos nomes das coisas, em perceber piadas, interpretando-as à letra, em responder adequadamente a perguntas começadas por "Quem, Como, Quando, Onde, Qual...", entre outros indícios.
Intervenção precoce previne atrasos na leitura e escrita
Em Portugal, cerca de 5,4% das crianças apresentam dificuldades em ler e, sobretudo, em escrever. Por isso, "sempre que os pais, educadores e pediatras identifiquem, no desenvolvimento da linguagem de uma criança, um atraso ou desvio em relação à norma, devem procurar o acompanhamento junto de terapeutas da fala para uma avaliação diagnóstica a fim de detetar qualquer problema", recomenda a terapeuta.
São várias as causas que podem levar uma criança a apresentar um atraso no desenvolvimento da linguagem: seja deficiência auditiva, um atraso cognitivo, um défice de atenção grave, problemas emocionais ou a privação do meio linguístico estruturante. Independentemente da causa, o fundamental é atuar a tempo. "A identificação precoce em patologias como as perturbações específicas da linguagem pode evitar que as alterações tenham repercussões na aprendizagem da leitura e da escrita", sublinha a especialista do Centro de Alcoitão.
O terapeuta da fala intervém também na neonatologia, acompanhando o recém-nascido, se houver patologia ao nível da alimentação (quando não apresentam o reflexo de sucção ou outra alteração que não permita a deglutição). A intervenção ao nível da comunicação faz-se também em crianças muito pequenas, por ser uma competência essencial para a expressão do pensamento e a interação social.
Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão
O Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, inaugurado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em 1966, foi o primeiro criado em Portugal para a reabilitação de pessoas com incapacidade motora, apostando desde logo na formação de pessoal especializado. A Santa Casa permitiu, aliás, a formação dos primeiros terapeutas da fala do país, quando, em 1957, levou um conjunto de profissionais de reabilitação a realizar cursos nos EUA e Inglaterra. À data da sua criação, o Centro de Alcoitão foi desde logo aclamado como uma das melhores instituições na área da medicina física de reabilitação no mundo. Nas últimas três décadas, a Santa Casa tem mantido a aposta na diferenciação técnica e científica dos seus profissionais, na modernização das instalações e equipamentos de diagnóstico e terapêutica e no desenvolvimento de abordagens inovadoras.