Dr.ª Aida Batista: “O futuro constrói-se e acredito que aqueles que tomarem as rédeas da APFH continuarão na senda de um futuro melhor para os farmacêuticos hospitalares”

Redação News Farma
19/11/14
Dr.ª Aida Baptista: “O futuro constrói-se e acredito que aqueles que tomarem as rédeas da APFH continuarão na senda de um futuro melhor para os farmacêuticos hospitalares”O Centro de Congressos do Estoril abre portas à 7.ª Semana da APFH. Em entrevista ao Jornal do Congresso, a presidente da APFH, Dr.ª Aida Batista, faz uma retrospetiva do seu mandato nestes últimos 7 anos.


Jornal do Congresso - Quando é que assumiu a presidência da APFH?
Dr.ª Aida Batista - Assumi a presidência da APFH em 2008. Nesse ano de eleições pensei que com uma equipa entusiasmada conseguiríamos levar a bom porto os destinos da Associação. Nesse ano a nossa candidatura teve como lema "O Futuro Constrói-se". Em 2012 recandidatámo-nos com algumas alterações na constituição dos órgãos sociais decorrentes de imperativos estatutários e renovámos com jovens farmacêuticos que trouxeram com eles um novo folego às nossas atividades e uma visão mais fresca da realidade profissional.

JC - O que encontrou quando assumiu este cargo?
AB - A APFH era já uma associação com pergaminhos, embora jovem. Cumpria a sua função estatutária de promoção da atividade dos farmacêuticos hospitalares e tinha também alguma atividade de formação. Gostaria aqui de referir o papel importante e decisivo dos colegas fundadores da APFH e dos que durante os 18 anos de vida da associação que decorreram até 2008, se dedicaram, tantas vezes com sacrifícios pessoais, à sua construção e afirmação. A nossa entrada na Direção da APFH determinou por um lado, a continuidade na prossecução dos seus objetivos estatutários, mas imprimindo-lhe uma dinâmica diferente, própria e intrínseca dos elementos constituintes dos novos corpos sociais e em particular da sua nova Direção que tive e tenho ainda o privilégio de presidir.

JC - O que representou para si este desafio?
AB - A APFH sempre esteve presente na minha vida desde a sua fundação. Na altura, eu estava envolvida numa outra atividade, a sindical e não me foi possível integrar o grupo de fundadores da associação. Costumo dizer como piada que sou "quase-fundadora", pois os sócios fundadores vão desde o sócio n.º 1 até ao sócio n.º 20, e eu tenho o número 21!
Por isso foi com respeito e atrevimento que aceitei este desafio. Com respeito pelo que representava em termos de história da profissão e de todos os que me antecederam e que eu considerava como profissionais de excelência e com atrevimento, pois sendo praticamente desconhecida e não tendo sequer qualquer cargo de dirigente na farmácia hospitalar atrevia-me ao lugar de Presidente da APFH e a concorrer com uma lista onde a Direção era constituída na sua maioria por "simples" farmacêuticos hospitalares. Neste momento, analisando os resultados, continuo a considerar que foi a decisão certa. O que resultou foi uma equipa unida nos seus esforços para obter os melhores resultados, tanto no primeiro mandato como no segundo.

JC - Qual o papel da APFH juntos dos farmacêuticos hospitalares? Que tipo de apoio oferece a estes profissionais?
AB - Os fins para os quais a APFH foi criada, consistem resumidamente no aperfeiçoamento técnico-científico, deontológico, das condições de trabalho e sociais, seja com a promoção de formação e outros eventos, seja na representação dos associados perante outras instituições, a tutela e a sociedade, em Portugal ou no estrangeiro.
Por isso, durante a minha presidência desenvolvemos um plano estruturado de formação dirigida essencialmente aos nossos associados que começou em 2009, ano em que realizámos 5 cursos para 88 formandos, em 2013 fizemos 8 cursos aos quais assistiram 180 farmacêuticos hospitalares.
A APFH continuou a sua política de apoio a projetos apresentados pelos seus associados, com a atribuição de prémios e outros apoios à sua atividade. Podemos destacar os Prémios APFH que todos os anos visam galardoar o melhor poster e a melhor comunicação oral apresentados durante o Congresso/Simpósio Nacional; e o Prémio APFH/IPSEN, o mais antigo na história das parcerias estabelecidas entre a APFH e a indústria farmacêutica. Neste âmbito duas novas parcerias surgiram em 2013: os Projetos de Investigação APFH/Gilead e o Prémio APFH-IMS Health.
Não posso deixar de mencionar a Semana APFH, que este ano já vai na sua sétima edição e que foi uma das imagens de marca e de mudança que cunhou a nossa entrada na liderança da APFH. Esta é a reunião magna dos farmacêuticos hospitalares portugueses, onde se encontram e discutem os assuntos científicos, técnicos e profissionais do seu interesse.

JC - Poderia apontar duas das principais dificuldades dos profissionais deste setor?
AB - A principal dificuldade dos profissionais é lidar com a incapacidade e falta de vontade política dos vários Governos em dar resposta à pretensão dos farmacêuticos hospitalares de verem criada e regulamentada uma carreira própria, mesmo tendo a garantia de que tal decisão não acarreta encargos financeiros para o Estado português. Há mais de dez anos que andamos a lutar por isso. A lutar por uma carreira que dignifique a profissão, que lhe dê respeito e reconhecimento, que lhe permita ter formação adequada e um estágio/internato efetivo que conduza ao título de especialista em farmácia hospitalar sem hiatos.
Deixem-me referir que estamos neste momento a trabalhar no reconhecimento da especialidade em farmácia hospitalar a nível europeu, em colaboração com a EAHP (Associação Europeia de Farmacêuticos Hospitalares), organização de que a APFH é membro.
Posso também citar como dificuldade no desenvolvimento cabal das atividades dos serviços farmacêuticos hospitalares a falta de recursos humanos. A política restritiva de contratações tem como resultado que, neste momento, muitos hospitais tenham défice de farmacêuticos e estejam a trabalhar nos limites mínimos admissíveis. A sobrecarga de trabalho, o cansaço e o stress podem conduzir a erros que potencialmente podem ter resultados negativos sobre os tratamentos dos doentes e pôr em causa a segurança da utilização dos medicamentos.

JC - O que fazer para as colmatar?
AB - Está nas mãos do Ministério da Saúde a resolução de ambos os problemas. A nossa missão, neste caso, é fazer chegar as nossas preocupações junto dos decisores. Temos em conjunto com a Ordem dos Farmacêuticos e o Sindicato levado a cabo algumas ações nesse sentido.

JC - Trata-se de uma classe profissional que não escapou à crise, sendo também afetada pelo desemprego. O que há a fazer para minorar o desemprego junto destes farmacêuticos que terminaram o curso e não conseguem integrar o mercado de trabalho?
AB - O desemprego, infelizmente, é uma realidade que se tem instalado junto de todos os recém-licenciados. No caso da farmácia hospitalar, como referi, nos hospitais públicos tem havido uma restrição muito grande à contratação. No entanto, por outro lado tem havido algum crescimento no que diz respeito ao número de hospitais privados no nosso país e por isso alguma empregabilidade.

JC - Quais as diferenças em relação aos farmacêuticos comunitários? Ou seja, são menos afetados? Recebem mais apoios?
AB - Não tenho um conhecimento profundo do que se passa com os colegas que trabalham nas farmácias comunitárias, mas tenho conhecimento dos muito baixos salários que são pagos nessa área e de algumas condições de trabalho menos favoráveis. Na minha opinião, os farmacêuticos comunitários não proprietários de farmácias mereciam um espaço como o da APFH para se juntarem e refletirem a sua atividade. Uma associação profissional pode colmatar as necessidades de aperfeiçoamento e promoção técnico-científica promovendo sinergias e criando união de classe.

JC - É possível traçar um balanço da atuação da APFH nos últimos anos?
AB - Ao longo desta entrevista fui fazendo um balanço da nossa atividade. Podia ainda referir a comemoração dos 20 anos da APFH e a mudança de imagem da associação. Resta-me acrescentar que nestes últimos sete anos consolidámos também a situação financeira da associação, permitindo desenvolver os planos anuais sem sobressaltos.
Mas deixo aos associados a avaliação da nossa atuação.

JC - A Semana APFH é uma das atividades da Associação. Que contributo tem para a evolução dos profissionais deste setor?
AB - Desde o início da existência da Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares que a sua grande reunião anual, que nos últimos anos decorre durante a Semana APFH, se dedica ao debate de temas diversos, mas que têm como objetivo comum a contextualização do exercício da farmácia hospitalar à luz da evidência científica e das melhores práticas em vigor. É este o contributo para a evolução dos profissionais.

JC - Que outras atividades são promovidas pela APFH em prol dos farmacêuticos hospitalares?
AB - Outra atividade importante é a que se realiza a nível europeu, em associação com a EAHP. Estamos envolvidos em vários processos relacionados com a profissão, tais como as Declarações Europeias da Farmácia Hospitalar e a criação de Quadro de Formação Comum de especialidade em Farmácia Hospitalar na Europa, entre outros. Tem sido muito gratificante este envolvimento tanto para os farmacêuticos hospitalares portugueses como a nível pessoal. Durante três anos fui membro da Direção da EAHP, estava candidata à presidência da mesma, mas infelizmente uma inusitada lei portuguesa sobre incompatibilidades obrigou-me a pedir a demissão do cargo. No entanto a APFH vai continuar representada na EAHP em grupos de trabalho e na Assembleia Geral anual.

JC - Poderia avançar com alguns projetos futuros da APFH?
AB - Bom, num futuro muito próximo haverá novidades na APFH.
No próximo dia 13 de dezembro, a assembleia eleitoral agendada trará novos Órgãos Sociais para a APFH.
Não foi por nossa vontade que foram convocadas eleições antecipadas, mas a necessidade decorreu da publicação da já referida lei sobre incompatibilidades. Foi uma decisão difícil para todos os que tiveram de suspender a sua atividade como membros dos órgãos sociais da APFH, mas em boa verdade a opção estava à partida minada pelo facto de toda a atividade exercida no âmbito da associação ser voluntária e gratuita e todos temos de manter a nossa fonte de rendimento que é o trabalho como farmacêutico hospitalar por conta de outrem. O nosso dever de obediência hierárquica a isso nos obrigou.
Gostava de acrescentar que ainda aguardamos do Ministério da Saúde resposta a cartas enviadas pela APFH, pela Ordem dos Farmacêuticos e pela EAHP solicitando esclarecimentos sobre a lei, mas desde fevereiro de 2013, data da primeira carta, nenhuma resposta concreta obtivemos. Lamentamos e protestamos veementemente a falta de respeito demonstrada por quem luta e trabalha em prol do desenvolvimento técnico e científico de uma profissão essencial do Serviço Nacional de Saúde.
O futuro constrói-se e acredito que aqueles que tomarem as rédeas da APFH continuarão na senda de um futuro melhor para os farmacêuticos hospitalares portugueses e para a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos doentes.

Artigo publicado no Jornal do Congresso da 7.ª Semana APFH


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